quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A ilha do Sal e as suas belas Praias de mar



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 Sal é uma ilha do grupo do Barlavento de Cabo Verde e conselho do mesmo nome. É uma das menores ilhas habitadas, estendendo-se por 30 km de comprimento e 12 km de largura.

Dez razões para descobrir uma das ilhas mais turísticas de Cabo Verde, deixando-se seduzir pela natureza desértica, o mar azul-turquesa, a simpatia do povo e o ritmo de uma música contagiante.

 

 

Assim que aterramos no Sal, às onze da noite, depois de apenas quatro horas de voo, e saímos a pé do avião até ao edifício do aeroporto, sentimos um vento quente. Imediatamente esquecemos o registo europeu e acertamos o ponteiro com o ritmo africano. Sem nunca perdermos a sensação de estar em casa. Aqui fala-se português (e crioulo, claro), a sinalização na estrada aquela que segue sempre a direito, sem trânsito, e onde a certa altura se avista mar de um lado e do outro é igual à nossa, e o Benfica, o clube de eleição. Dantes, os turistas vinham para aqui, punham a pulseirinha do hotel no pulso, e só tinham de decidir se passavam o dia à beira da piscina ou iam até ao areal fino, dar um mergulho no mar azul-turquesa, de temperatura simpática. Quase sempre com vento à mistura. Ainda há quem não saia dos hotéis. Mas, se realmente quiser experimentar a ilha e conhecer como vivem os cabo-verdianos, o melhor é seguir as nossas instruções:

1 - Boiar nas salinas

Não importa como lá se chega de pick up, mota, autocarro, carro alugado ou outro veículo, mas é imprescindível passar algum tempo nas salinas de Pedra de Lume, que deram nome à ilha. Antes de se passar no buraco que dá acesso à cratera do antigo vulcão (por €5), a vista lá de cima torna a experiência mais rica. Mas não é a paisagem que transforma esta visita num dia especial. Tomar aqui banho, isso sim, faz toda a diferença. Nos primeiros momentos tudo parece igual, mas de repente o corpo perde o peso e, como no Mar Morto, começa a flutuar, tornando-se impossível nadar. Enquanto se aguentar, o divertimento é encontrar uma posição cómoda, sem dar encontrões às outras pessoas. Mas depressa o sal nos olhos e na boca começa a incomodar, obrigando ao fim da brincadeira. Por €1, ganha-se um duche de água doce antes de se sair. Caso contrário, segue-se salgado o resto da viagem. Mas que isso não impeça de se reparar, ao longo do caminho, nas rudimentares estruturas de madeira, que serviram, no passado, para o transporte do sal.

2 - Uma piscina natural

Um caminho pelo deserto assim se atinge a Buracona, uma piscina formada no meio das rochas escuras e onde sabe bem tomar banho, mesmo em dias de muito vento. Qualquer que seja o meio de transporte, os saltos causados pelos buracos da estrada de terra batida são inevitáveis nesta longa viagem, onde até temos direito a miragens. Para-se na Suvenir Mirage (assim mesmo), uma cabana repleta de artesanato cabo-verdiano, gerida por Emanuel. Do nada, aparecem os franzinos Elvis e Delvis, de 13 e 8 anos. Dizem que andam na escola, mas custa a acreditar quando se olha para os pés dos irmãos, cinzentos do pó. "Pedimos para comprar sapatos", diz o mais velho, acabando por confessar que consegue 700 escudos (para fazer o câmbio, basta tirar dois zeros) por dia com este tipo de argumento. Quando se chega à Buracona perto do meio-dia, é possível ver o "olho azul" nada mais do que o sol a incidir na escuridão de uma gruta dando-lhe essa tonalidade. Nota: Levar bom calçado para andar pelas rochas vulcânicas.

3 - É proibido proibir

Paramos o carro junto a uma bomba de gasolina, onde está um letreiro que proíbe a "lavagem de viaturas". Mesmo ao lado, um homem põe o seu Renault num brinquinho, com grande descaramento. Aqui, é proibido proibir. A lei também não permite que se conduza sem cinto ou se fale ao telemóvel, mas toda a gente o faz. Estamos em Espargos, a capital da ilha, onde existe um hospital, um centro cultural, uma biblioteca, a Câmara, um quartel e bancos. Mas onde os miúdos brincam no meio da rua, indiferentes aos carros, alguns deles descalços e onde as mulheres transportam alguidares à cabeça, provavelmente cheios de bananas que vendem na rua a 120 escudos o quilo. Em Espargos encontra-se de quase tudo, mas a um preço exorbitante para uma população que ganha cem euros de salário mínimo. A explicação: a ilha não tem produção própria e todos os víveres têm de ser importados (o barco vem carregado de duas em duas semanas). Em Espargos, impõe-se uma ida ao mercado, para descobrir alguns dos legumes e frutos locais, como a calabaceira e o tambarino. Antes de deixar a cidade, e depois de uma subida à zona das antenas do aeroporto para se absorver a vista, a esplanada Bom Dia é um bom local para experimentar a Strela, a cerveja nacional.

4 - À sombra da Palmeira

É na vila de Palmeira que se encontra o principal porto da ilha. Por isso não nos espantamos quando vemos vários pescadores de volta de um enorme tubarão-martelo, que trouxe lulas no bucho. Foi pescado, garantem-nos, à linha, sem cana. Arelson Renato, de 22 anos, fala da proeza na maior das calmas, enquanto chupa um gelado "artesanal" de laranja, embrulhado em plástico, que saiu de uma lancheira por 10 escudos. Ao mesmo tempo, salga-se blue fish, como nós salgamos o bacalhau, logo ali, à saída da água. O anúncio de uma reunião dos alcoólicos anónimos na Casa dos Pescadores faz adivinhar uma vida que não passa de grogue nos intervalos da pesca. Talvez por isso, as mulheres mostrem o seu olhar melancólico, às ombreiras das janelas, enquanto as crianças brincam em seu redor.

5 - O peixe é quem mais ordena

O Sal não tem agricultura nem indústria. Vive exclusivamente do turismo. E do peixe, que alimenta e encanta os turistas. Vale a pena perder uma manhã no pontão de Santa Maria, onde os barcos chegam carregadinhos. O passadiço de madeira enchese de gente que retira as entranhas à mão ou com rudimentares facas de cozinha. Neste dia, o Sera, um enorme peixe do tipo do atum, foi o mais apanhado um quilo rende cerca de 400 escudos. Eduino, 45 anos, um dos muitos que vivem desta atividade, consegue fazer três contos por dia (€30), na época alta. Assim que estão amanhados, os peixes pousam em carrinhos de mão ferrugentos e são entregues, a pé, nos hotéis das redondezas, num processo que não demora mais do que vinte minutos. No pontão, também há cavalas e peixe miúdo, que se vende mal é capturado. Assim como conchas, búzios, estrelas-do-mar, mandíbulas de tubarão ou pele do peixe-balão para souvenirs. Com sorte, ainda há mangas pequeninas, a 450 escudos o quilo.

6 - Está ali uma barbatana

Perto da zona das salinas, na zona Norte da ilha, encontra-se um bidão com a palavra "tubarão" pintada em várias línguas. Siga-se por aqui para avistar este animal marinho. Desviando para a direção indicada por aqueles escritos, aparecem dois miúdos a mandar parar o carro. Walter, 14 anos, e Euclides, 13, vivem no Freijoal, um pequeno casario onde coabitam com mais 20 pessoas. Saltam para a caixa aberta da pick up e indicam a praia onde os tubarões gostam de se mostrar. Pelo meio, passase por umas dunas cheias de lixo trazido pelos barcos, onde a palavra ecologia não tem significado algum. Assim que o carro para, na baía da Parda, Walter entra mar adentro, por cima de pedrinhas pretas escorregadias. Euclides fica em bicos dos pés, na pick up, a dar indicações, porque não trouxe sapatos. A tarde já vai longa. Às três e meia, na maré cheia, foi um festival de avistamentos. Agora, com o céu carregado e o mar cinzento, é a custo que discorremos uma barbatana de um tubarão-gato misturada na espuma das ondas, a poucos metros do local onde paramos. Os miúdos asseguram que, nos dias bons, eles vêm quase até à rebentação. Vale a pena tentar.

7 - Cuidado com as tartarugas

A catalã Berta Renom, 28 anos, chegou ao Sal, em 2011, como voluntária da associação SOS Tartarugas. Hoje coordena a ONG criada para evitar que os habitantes da ilha matem estes animais marinhos para consumo à mesa. "Antes só se viam carapaças de tartaruga espalhadas pela praia, agora preservamos-lhes o habitat e os ninhos", explica, com o seu sotaque de Barcelona. A partir de julho, a sua organização promove visitas às praias para observar a desova das tartarugas, mas sob um código de conduta rigoroso: os grupos não podem ter mais de dez pessoas, são acompanhados por um guia treinado e é proibido usar flash nas fotografias. Os turistas são avisados ainda que devem levar roupa escura e aprendem a caminhar junto à linha da costa, na maré alta, para não atrapalhar o processo. Quando aparece um rasto, devem parar e agacharem-se, sempre da parte de trás para que as tartarugas não se assustem. A experiência custa 20 euros, que revertem para a proteção destes habitats.

8 - Barco com vista

Emídio Simões, 55 anos, é o português mais cabo-verdiano do Sal. Vive sozinho nesta ilha desde 2007, tempo suficiente para conhecer toda a gente, especialmente a partir do momento em que, como quase todos, se dedicou ao turismo, criando o clube Odisseia. Em 2010 comprou o barco Neptunus e passou a organizar passeios no mar. Esta espécie de submarino amarelo tem o fundo em vidro e, por isso, por 33 euros, os turistas podem ver um pouco da vida que se esconde no fundo desta água tão transparente. Em frente ao hotel RIU faz-se a primeira paragem, pois é aqui que estão os destroços de um navio afundado há quase um século. Entretanto, um mergulhador dá comida aos peixes para que o espetáculo fique mesmo bem na fotografia. A bordo serve-se ponche, uma das bebidas típicas da ilha, feita à base de cana-de-açúcar (a outra é o grogue, a mesma base, mas bem mais forte). João Silva, 30 anos, tem a pulseirinha dourada do Oasis Salinas Sea, mas nem por isso quis perder este passeio que ainda termina a tempo de ir, com a mulher, almoçar no hotel. Pedindo com jeitinho, dá para mergulhar na segunda paragem, junto a um Cristo aqui depositado como forma de proteger os pescadores.

9 - Um luxo de mar

O mar do Sal dá-se ao luxo de permitir quase todos os desportos: do surf ao skimming, passando pelo bodyboard. Mas, o que hoje agarra mais adeptos é o kitesurf. Não admira o vento raramente dá tréguas. O stand up paddel também começa a estar na moda, mas só quando os dias estão mesmo bons. O norte-americano Rod Smith, 47 anos, nem esteve com meias medidas. Na sua Surf Zone, em frente ao lendário hotel Morabeza, escreveu: "No beach beds, no beers, no food, just surf." Aqui, já se sabe, só vem quem quer ter aulas de kite (duas horas €70) ou windsurf (uma hora €40), ou alugar material para praticar desportos aquáticos (uma hora €15). Este é um dos principais locais que assistem quem não leva as suas pranchas para o Sal, mas Santa Maria tem várias escolas deste tipo e o mar está quase sempre cheio de gente a praticar.

10 - À noite tudo pode acontecer

Ir ao Sal e não sair dos portões do hotel, nem que seja por uma noite, é quase crime. Cabo Verde escreve-se ao som de música, há um cantor em cada esquina, dança-se de forma primorosa, com um jogo de cintura que nem vale a pena tentar imitar. Com a pulseirinha, pode ter-se um cheiro das Mornas e do Funaná, mas só quem anda pelas animadas ruas de Santa Maria vê, realmente, como os cabo-verdianos se divertem. Não há como perder-se ou não encontrar os sítios mais animados, porque são poucos e estão colados uns aos outros. Comece a noite no sofisticado Ocean Café, explorado por italianos. Não é por acaso que, do nada, passa uma travessa de piza, cortada aos pedaços, como uma oferta aos clientes. Mude depois para o Buddys, com dedo espanhol, que se nota apenas nas tapas. A (boa) música ao vivo continua por aqui. E termine a noite na discoteca. Fica o mesmo aviso que ouvimos antes de entrar: "No Calemba é de A a Z, tudo pode acontecer. " Se ainda conseguir, de madrugada, espreite o Pirata, mesmo à entrada da vila.

Créditos:http://visao.sapo.pt/visaoviagens/africaemediooriente/dez-razoes-para-voar-ja-para-a-ilha-do-sal=f787885

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